Nos últimos 40 anos, a Escola Bíblica Dominical (EBD) no Brasil passou por profundas transformações. Desde a década de 1980, a EBD tem sido um pilar essencial no ensino cristão das igrejas protestantes, especialmente nas Assembleias de Deus, a maior denominação pentecostal do Brasil. Acompanhando mudanças sociais, culturais e tecnológicas, a EBD se ajustou, ampliando sua abordagem pedagógica, adotando novos currículos, integrando tecnologias e reorganizando suas estruturas administrativas.
A Década de 1980: Consolidação e Expansão
Na década de 1980, a EBD já estava firmemente estabelecida como o principal meio de ensino bíblico em igrejas evangélicas. Durante esse período, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) assumiu uma posição de liderança na criação e distribuição de material didático para a EBD. A CPAD se destacou pelo desenvolvimento de revistas trimestrais que cobriam diversos temas teológicos e práticos, proporcionando conteúdo para diferentes faixas etárias.
O currículo desenvolvido pela CPAD durante este período refletia um forte foco na doutrina pentecostal e no estudo sistemático da Bíblia. Cada classe tinha lições adaptadas para a idade dos alunos, incluindo desde crianças até adultos. Havia também um compromisso com a evangelização e a formação de novos crentes, com classes de discipulado incluídas no programa regular da EBD.
A Evolução do Currículo: Foco nas Faixas Etárias
A CPAD estruturou seu currículo em faixas etárias bem definidas, com lições adequadas ao nível de compreensão dos alunos. O objetivo principal sempre foi a formação espiritual integral, contemplando tanto o crescimento intelectual quanto o moral e espiritual dos alunos. A divisão de classes incluiu as seguintes faixas etárias:
- Berçário (0-2 anos)
- Maternal (3-4 anos)
- Jardim de Infância (5-6 anos)
- Primários (7-8 anos)
- Juniores (9-10 anos)
- Pré-adolescentes (11-12 anos)
- Adolescentes (13-14 anos)
- Juvenis (15-17 anos)
- Jovens (a partir de 18 anos)
- Adultos (sem limite de idade)
Esse currículo foi inovador, pois reconheceu a necessidade de um ensino personalizado para cada fase da vida, com lições que abordavam desde princípios básicos da fé cristã até questões teológicas mais complexas.
A Adoção de Novas Tecnologias
A partir da década de 1990 e ao longo das duas primeiras décadas do século XXI, a EBD começou a integrar novas tecnologias em seu funcionamento. A CPAD e outras editoras evangélicas, como a JUERP (Junta de Educação Religiosa e Publicações da Igreja Batista) e a Editora Cultura Cristã (Presbiteriana), começaram a digitalizar seus conteúdos e oferecer recursos como CDs, DVDs e mais recentemente, plataformas online e aplicativos móveis.
Esses avanços permitiram que as lições fossem acessadas por professores e alunos em qualquer lugar, tornando o ensino mais flexível. Um dos grandes marcos foi o lançamento de plataformas como o Sistema EBD, que facilitou a chamada eletrônica, o cadastro de alunos, a geração automática de relatórios e até a emissão de certificados.
Além disso, o uso de recursos audiovisuais, como vídeos e apresentações de slides, tornou-se comum, ajudando a ilustrar melhor os temas estudados. Ferramentas de colaboração online, como grupos de WhatsApp, Telegram, e outras plataformas de comunicação, também foram integradas, permitindo que professores compartilhassem materiais e discutissem temas com os alunos fora das aulas.
Estrutura Administrativa e Funções
Com o crescimento e diversificação da EBD, houve a necessidade de uma estrutura administrativa mais robusta. A administração da EBD passou a contar com funções bem definidas, tais como:
- Superintendente: Responsável pela direção geral da EBD, planejamento e coordenação das atividades.
- Coordenador Pedagógico: Garantia da qualidade do ensino, auxiliando professores na preparação das aulas e implementação de estratégias educacionais.
- Secretário: Encarregado da organização administrativa, da chamada, do controle de presença e da elaboração de relatórios.
- Tesoureiro: Controla as finanças da EBD, cuidando de pagamentos, arrecadações e relatórios financeiros, além de colaborar no planejamento orçamentário anual.
Em algumas igrejas maiores, foram adicionados tesoureiros e músicos, para cuidar das finanças da EBD e proporcionar um ambiente de adoração através da música. O crescimento da EBD exigiu uma gestão cada vez mais eficiente e profissionalizada.
Desafios e Adaptações Contemporâneas
Com o passar dos anos, a EBD enfrentou desafios como a evasão de alunos e a concorrência com a educação secular, que oferece cada vez mais atrativos que competem pelo tempo dos jovens e adultos. O avanço do liberalismo teológico e do relativismo moral também se tornaram obstáculos a serem combatidos pelo ensino bíblico, que continuou a enfatizar a importância da fidelidade doutrinária e da defesa da fé cristã.
Um dos grandes desafios enfrentados nas últimas décadas foi a necessidade de motivar tanto professores quanto alunos a permanecerem engajados. Muitos professores, especialmente nas décadas de 1990 e 2000, se viram desmotivados e despreparados para lidar com as novas gerações. A solução para esse desafio foi a implementação de programas de capacitação e seminários, visando o aperfeiçoamento pedagógico e espiritual dos professores.
A EBD Hoje e Perspectivas Futuras
Atualmente, a EBD continua sendo um espaço fundamental para o ensino e o discipulado nas igrejas evangélicas brasileiras. As inovações tecnológicas e a atualização constante do currículo têm permitido que a EBD se mantenha relevante em um mundo em rápida mudança. Com a pandemia de COVID-19, muitas igrejas adotaram plataformas online para manter as aulas da EBD funcionando, uma tendência que deve continuar mesmo após o retorno às atividades presenciais.
A perspectiva futura da EBD inclui a criação de conteúdos interativos, o uso de realidade aumentada e virtual, e o desenvolvimento de programas que engajem melhor as novas gerações. A busca constante por métodos inovadores e por um ensino mais eficiente deve garantir que a EBD continue sendo uma parte vital da formação espiritual nas igrejas evangélicas brasileiras.
Conclusão
A história recente da EBD no Brasil revela uma instituição em constante adaptação. Com o apoio de editoras como a CPAD, a EBD tem conseguido manter seu compromisso com o ensino bíblico, ao mesmo tempo que incorpora novas tecnologias e métodos pedagógicos. Sua missão de discipular e ensinar a Palavra de Deus continua forte, adaptando-se às necessidades de cada geração, mas mantendo o foco nos princípios eternos da fé cristã.